quinta-feira, abril 22

A autoridade propõe-se e impõe-se.

Nada encontrei melhor pretexto para prosseguir com a reanimação do Aragem: reeditar um excerto de um texto do Savater, que publiquei no outrÒÓlhar.

A palavra «autoridade» remete etimologicamente para o verbo latino augeo, que significa, entre outras coisas, fazer crescer. O paradoxo de toda a formação é o facto de o eu responsável se forjar a partir de escolhas induzidas, pelas quais o sujeito ainda não se responsabiliza. A aprendizagem do auto-controlo inicia-se com as ordens e indicações da mãe, que a criança mais tarde interioriza numa estrutura psíquica dual que a torna ao mesmo tempo um emissor e um receptor de ordens: quer dizer, a criança aprende a comandar-se a si própria, obedecendo aos outros. Em todas as latitudes, as crianças crescem como a hera trepa pela parede, com o auxílio dos adultos que lhes oferecem ao mesmo tempo apoio e resistência. À falta desta tutela, nem sempre complacente, é possível que acabem por tornar-se disformes até à monstruosidade. E a autoridade sobre elas exercida deverá caracterizar-se pela continuidade – primeiro, na família, depois, na escola: se a um período de abandono caprichoso se seguir uma brusca interrupção autoritária, será fácil que o resultado venha a revelar-se um desastre. Decerto, a autoridade dos maiores propõe-se aos menores como uma colaboração que lhes é necessária; mas, em certas ocasiões, terá também de se lhes impor. E é disparado aplicar estritamente desde o infantário o princípio democrático segundo o qual tudo deve ser decidido entre iguais, porque as crianças não são iguais aos seus professores no que se refere aos conteúdos educativos.

(Fernando Savater)

A minha escola acaba de comemorar os 25 anos de serviço público, do bom.

Foi uma festa bonita, de reencontros e de muitas evocações. O tema «autoridade» foi várias vezes revisitado nas palavras de Savater, actuais, como sempre!

2 comentários:

tsiwari disse...

Parabéns.

:)

vieira calado disse...

Grande luta,

a dos professores!

E tão mal entendida...

Saudações poéticas